Como uma criança autista interage com o mundo?

Como é ser uma criança autista? Imagine você na seguinte situação: aparentemente, é um dia normal, como outro qualquer. No entanto, você acorda pela manhã e sente que seus pensamentos estão pulando à sua mente, desorganizados e intensos, sem filtro.

O filtro natural, que todos temos, que faz com que somente o estritamente necessário seja passado ao consciente, está ausente ou defeituoso. Imagens, sentimentos e memórias vêm à tona, todos ao mesmo tempo e sem uma ordem lógica.

A intensidade do som pode ser tanta, que a criança autista costuma tapar os ouvidos.
A intensidade do som pode ser tanta, que a criança autista costuma tapar os ouvidos.

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Com uma certa dificuldade, você se dirige à cozinha, onde sua mãe está preparando o café da manhã. Ela o cumprimenta em árabe fluente e você, obviamente, não consegue distinguir os fonemas. O café que ela lhe prepara está imbebível porque o filtro dos seus sentidos, assim como o filtro dos seus pensamentos, também está defeituoso. O café parece-lhe mais amargo do que é, mais quente do que realmente está. Você não consegue segurar a xícara, pois parece que o controle dos seus movimentos também está prejudicado.

Sua mãe estava lavando os pratos. Pequenos sons, que normalmente filtramos, estão passando intensamente pelos seus sentidos. O ruído que os pratos fazem é tão estridente que você precisa tapar os ouvidos. Até mesmo o respingar da água na pia é insuportável.

Sua mãe percebe que alguma coisa não está bem e tenta ajudar. O contato da mão dela em seu ombro parece queimá-lo. O som que sai da boca da sua mãe parece afunilado, distante. Você não consegue verbalizar o que está sentindo. Os sons simplesmente não saem!

Após essas explosões de cheiros, cores, sons e texturas, você, exausto, vai, de roupa mesmo, para debaixo do chuveiro. A sensação da água passando pela superfície do seu corpo o faz ter consciência sobre sua presença e seus limites. Você sente seus braços, suas pernas, seus pés, sua cabeça e todo o estímulo do ambiente parece menos assustador.

Você não percebe, mas anteriormente estava gritando. Este grito torna-se mais calmo e você, por um breve momento, sente-se reconfortado.

A sensação da água pelo corpo deixa o autista mais confortável.
A sensação da água pelo corpo deixa o autista mais confortável.

Isso aconteceu apenas no café da manhã. Agora, imagine esta situação angustiante em todos os dias da sua vida, o tempo todo. É mais ou menos isso o que muitas pessoas que apresentam o Transtorno do Espectro Autista sentem diariamente.

Uma representação visual de uma criança autista…

Você é mais visual? Veja este video abaixo, que mostra uma situação rotineira de uma criança autista, elaborado pela National Autistic Society, uma ONG britânica:

 

Como diagnosticar uma criança autista?

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Para diagnosticar uma criança autista, é necessária a avaliação de um Psiquiatra da Infância
Para diagnosticar uma criança autista, é necessária a avaliação de um Psiquiatra da Infância

Como faz parte de um espectro, o autismo é tão variado que é quase impossível defini-lo em apenas uma descrição, como fiz acima. Seria simplista demais!

O Transtorno do Espectro Autista inclui diferentes sintomas e variedades de manifestações clínicas, com seus níveis de comprometimento intelectual também variados. Vai do mais severo, em que a criança é incapaz de se comunicar e apresenta retardo mental, aos mais brilhantes cientistas e engenheiros capazes de grandes descobertas que mudam o mundo.

Meu objetivo, neste artigo, foi ilustrar um pouquinho da experiência de o que é ser autista. Todas as informações do exemplo são baseadas em depoimentos de autistas verbais e imagens de Ressonância Magnética funcional das áreas ativadas pelo sensório e pensamento dos autistas.

Apesar de importantes para os estudos científicos, os exames de imagem ainda não são capazes de diagnosticar o Transtorno do Espectro Autista. Deste modo, o diagnóstico é feito em consultório pela avaliação clínica do Psiquiatra da Infância.

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Meu nome é Pedro Henrique. Sou médico formado pela UFES, Psiquiatra clínico formado no Instituto Philippe Pinel, no Rio de Janeiro, e Psiquiatra da Infância e da Adolescência pelo CARIM-IPUB, da UFRJ. Nasci em Vitória e passei a maior parte da minha vida na ilha.

Fiquei apaixonado pela Psiquiatria no primeiro momento em que pisei no ambulatório, ainda na minha graduação. Percebi que não havia especialidade médica com maior capacidade de aproximação do médico ao seu paciente. Até tentei me aproximar de outras áreas, mas não demorei muito a perceber que seria Psiquiatra, profissão que levaria para o resto da minha vida.

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